Palavras de urgência |
“A mudança climática é um problema que não podemos deixar para as gerações futuras”, disse o papa, manifestando sua urgência, em seu primeiro discurso público, na Casa Branca, em sua visita aos Estados Unidos. “No que respeita ao cuidado de nosso lar”, continuou ele, “estamos em um momento crítico. Estamos a tempo de fazer a mudança de que necessitamos, de criar um mundo sustentável. Sabemos que as coisas podem mudar. Essa mudança demanda de nossa parte um reconhecimento sério do tipo de mundo que estamos liderando, bem como das pessoas que o estão liderando e que não têm reconhecido o problema.”
O presidente Barack Obama, por sua vez, disse o seguinte: “Creio que a emoção que sua visita gera é não apenas por seu papel como papa, mas por suas qualidades únicas como pessoa. Em sua humidade, sua aceitação da humildade, na amabilidade de suas palavras e na generosidade de seu espírito vemos um exemplo vivo dos ensinamentos de Jesus, um líder cuja autoridade moral não apenas chega por meio de suas palavras, mas também por meio de seus atos.”
Depois dos discursos do presidente e do papa, os líderes se retiraram para uma conversa privada no Salão Oval da Casa Branca. O conteúdo da conversa não foi divulgado, mas à mesa estão temas como a abertura de relações entre os Estados Unidos e Cuba, a desigualdade econômica e, claro, as mudanças climáticas – agenda comum entre os dois líderes.
Amanhã, o papa fala no Congresso norte-americano e na sexta, seu discurso será na ONU, diante de líderes de várias nações do mundo.
Francisco nos EUA: o papa vai marcando território
Bandeira vaticana hasteada na ONU |
Na próxima sexta-feira, dia 25, pela primeira vez na história, o Vaticano terá sua bandeira hasteada na sede da Organização das Nações Unidas (ONU). A bandeira será içada pouco antes da chegada do papa Francisco à sede da entidade em Nova York. Isso mostra como a Santa Sé vai conquistando espaço e respeitabilidade. Graças à popularidade e às habilidades políticas do papa, a Igreja Católica está avançando como religião e o Vaticano, como Estado. A recente visita do papa a Cuba (as reportagens podem ser vistas aqui e aqui) tomou conta dos principais jornais, que recordaram a influência do líder católico como mediador entre os Estados Unidos e a ilha dos Castro. De certa forma, isso serve de lembrete da capacidade inspiradora de Bergoglio para motivar e, quem sabe, acelerar as decisões que dizem respeito às mudanças climáticas, causa que o papa abraçou de corpo e alma, não sem outros interesses (confira aqui).
Recentemente, o papa Francisco voltou a dizer que o aquecimento global é um fato (estão considerando este o ano mais quente da história, o que ajuda a reforçar o argumento dele) e que é necessário um governo político mundial, com o objetivo de salvar a humanidade de um desastre total. “A mudança climática é real e perigosa. É necessário um novo sistema de governo global para lidar com essa ameaça sem precedentes. Essa nova autoridade política seria responsável pela redução da poluição e o desenvolvimento dos países e regiões pobres”, disse o papa em uma carta dirigida aos bispos católicos, segundo publicou o jornal Independent.
Ao mesmo tempo em que o papa chega aos Estados Unidos, lá o candidato democrata adventista Ben Carson vem chamando a atenção da mídia, como havíamos previsto (confira). Revistas importantes como a Newsweek já destacaram o lado religioso do famoso neurocirurgião (confira aqui).
É uma situação bastante interessante esta: de um lado, o papa atrai todos os holofotes para sua causa ambientalista com a possibilidade de dar ainda mais ênfase a algo que já publicou em sua encíclica Laudato Si (o domingo como proposta para amenizar o aquecimento global) e, de outro, Carson atrai a atenção da mídia para um aspecto curioso de sua vida – o fato de ser um adventista guardador do sábado e criacionista. Que tempos! [MB]
Nota: Hoje o site católico National Catholic Register publicou um artigo interessante com o título (traduzido) “Por que é necessário um papa para o cristianismo fazer sentido”, de autoria do padre R. Dwight Longenecker. Ele diz que “apenas uma autoridade infalível [no caso, o papa] pode tanto preservar a fé uma vez entregue aos santos como decidir a melhor forma de adaptar essa fé para a salvação das almas em circunstâncias e culturas variadas” (grifo meu). Resumindo: a Igreja Católica não muda seus dogmas, apesar da face conciliadora e ecumêmica de Francisco. Quem terá que mudar (e já estão mudando) são os protestantes, cujos líderes vêm dizendo que “o protesto acabou”.
Há mais de um século, Ellen White escreveu: “E esta é a religião que os protestantes estão começando a encarar com tanto agrado e que finalmente se unirá com o protestantismo. Esta união não será, porém, efetuada por uma mudança no catolicismo, pois Roma não muda. Ela declara possuir infalibilidade. É o protestantismo que mudará. A adoção de ideias liberais, de sua parte, o conduzirá ao ponto em que possa apertar a mão do catolicismo” (Ellen G. White, Review and Herald, 1º de junho de 1886 [grifo meu]). A adoção do domingo em lugar do sábado é a maior prova dessa concessão protestante (confira).
Conforme destacou o amigo Filipe Reis, de Portugal, “o National Catholic Register publica esse artigo no dia em que o papa Francisco aterrissa nos Estados Unidos para a sua visita oficial, onde estará na Casa Branca, no Congresso norte-americano e nas Nações Unidas. Você vai continuar acreditando em coincidências?!”