Cadê a selfie do Moisés? |
Confissão:
me dá nos nervos cético toddynho que nunca
pegou um livro de arqueologia na vida, mas gosta de rebolar de “sabichão
questionador” perguntando no Facebook: “Cadê as evidências dos israelitas no
Egito? A Bíblia é tudo mentira mimimimimi.”
Primeiro,
a pessoa não sabe do que está falando. Tanto é que quando você mostra
evidências de que os israelitas foram escravos dos egípcios, ela ignora porque
quer uma inscrição do tipo “Moisés passou por aqui e arrasou nosso povo” (de
preferência com uma pintura mostrando Moisés tirando uma selfie depois de passar no Mar Vermelho).
Segundo,
a pessoa não sabe o que é uma evidência arqueológica e histórica. Nem imagina
como os arqueólogos estruturam suas hipóteses sobre o Antigo Egito, e,
provavelmente, nem sonha que grande parte do conhecimento sobre o passado (mais
de 95%) está hoje perdido nas brumas do tempo. Você mostra prováveis linhas de
evidência, raciocina tentando respeitar o melhor da evidência científica, mas o
cético toddynho olha para você e diz: “E daí? Cadê a selfie de Moisés mimimi.”
Terceiro,
ela se acha muito científica porque leu na Superinteressante
entrevista com arqueólogos apoiadores do “minimalismo bíblico”, questionando a
veracidade do Antigo Testamento. Ela não sabe nem que existem duas correntes na
arqueologia sobre o lugar do texto bíblico na reconstrução da história (ela nem
sabe o que é minimalismo). Mas e daí? Ela ainda quer a selfie de Moisés.
O
ceticismo é muito bem-vindo na academia e até mesmo no debate sobre as
narrativas bíblicas. Mas o cético toddynho precisa ser ignorado porque
conhecimento não é competição para ver quem aparece mais.
(Bruno Ribeiro Nascimento,
via Facebook)