Cenário mais do que interessante este: enquanto o papa sul-americano com ares de esquerdista, defensor de uma teologia liberal, descrente na historicidade de Adão e Eva e defensor do domingo como dia de descanso conquista o coração da maior nação protestante do mundo, que deveria estar na vanguarda da defesa dos princípios bíblicos sobre os quais foi fundada, Ben Carson, o presidenciável candidato republicano adventista guardador do sábado vem sendo debochado por justamente defender a Bíblia e o criacionismo. O site The Week traz a provocativa chamada: “Como Ben Carson pode ser ao mesmo tempo inteligente e tão espetacularmente estúpido?” (confira aqui). E o site da MSNBC não deixou por menos: publicou uma matéria com o título “Ben Carson argumentou que a evolução foi ‘incentivada por’ Satanás” (confira aqui).
A matéria do The Week mostra estranheza com o fato de Carson ter estudado medicina numa das melhores universidades do mundo e, ainda assim, defender a visão criacionista. E depois comenta: “Há milhões de pessoas no mundo que acreditam fervorosamente em um poder divino, mas que também reconhecem a verdade da evolução [sic]. A Igreja Católica, por exemplo, é bastante clara em que não há nada de incompatível entre sua teologia e a evolução.” Depois dizem que o “estranho sobre Carson” é o fato de ele ter sido treinado em ciência, mas suas crenças religiosas terem-no tornado incapaz de “olhar objetivamente para qualquer área científica”. O texto da MSNBC chega a chamar as crenças de Carson de “bizarras” e afirma que ele está denegrindo a ciência e os cientistas.
No dia 20, foi a revista Newsweek que destacou a fé do neurocirurgião (confira). A reportagem dedica bom espaço à história do adventismo, explica um pouco das doutrinas da igreja e depois pergunta: “Isso importa?” É o adventismo de Ben Carson se tornando evidente e incomodando...
Enquanto Carson é debochado, o papa Francisco é aclamado. Na capa que vai estampar a revista Time do dia 28 de setembro, o título diz: “O novo Império Romano”, e o subtítulo completa: “O alcance global do papa Francisco”. Hoje o chefe da Igreja Católica discursou na Casa Branca e disse: “A mudança climática é um problema que não podemos deixar para as gerações futuras. [...] Estamos em um momento crítico. Estamos a tempo de fazer a mudança de que necessitamos, de criar um mundo sustentável.” Francisco tem pressa...
Antes da fala do papa, o presidente Barack Obama chegou a compará-lo a Jesus Cristo: “Creio que a emoção que sua visita gera é não apenas por seu papel como papa, mas por suas qualidades únicas como pessoa. Em sua humidade, sua aceitação da humildade, na amabilidade de suas palavras e na generosidade de seu espírito vemos um exemplo vivo dos ensinamentos de Jesus, um líder cuja autoridade moral não apenas chega por meio de suas palavras, mas também por meio de seus atos.”
Dias antes de sua ida aos Estados Unidos, Francisco havia dito que “a mudança climática é real e perigosa. É necessário um novo sistema de governo global para lidar com essa ameaça sem precedentes. Essa nova autoridade política seria responsável pela redução da poluição e o desenvolvimento dos países e regiões pobres”.
O adventismo de Carson começa a incomodar |
Como já disse em outra postagem, esta é uma situação bastante interessante: de um lado, o papa atrai todos os holofotes para sua causa ambientalista simpática, com a possibilidade de dar ainda mais ênfase a algo que já publicou em sua encíclica Laudato Si (o domingo como proposta para amenizar o aquecimento global) e, de outro, Carson atrai a atenção da mídia para um aspecto curioso de sua vida – o fato de ser um adventista guardador do sábado e criacionista.
No capítulo 5 do livro O Grande Conflito (recomendo a leitura), escrito há mais de cem anos por Ellen White, ela afirma que as igrejas protestantes estão envolvidas por grandes trevas, do contrário, discerniriam os sinais dos tempos e perceberiam que a Igreja de Roma está ganhando terreno em todas as direções, exatamente como mostra a capa da revista Time acima.
No mesmo livro, na página 615, ela também escreveu: “Como o sábado se tornou o ponto especial de controvérsia por toda a cristandade, e as autoridades religiosas e seculares se combinaram para impor a observância do domingo, a recusa persistente de uma pequena minoria em ceder à exigência popular fará com que essa minoria seja objeto de execração universal.”
Esse evento (o decreto dominical) está num futuro talvez bem próximo. Mas Ben Carson parece já estar experimentando essa execração, assim como a experimentarão seus irmãos de fé.