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Então, pecado não existe |
Os humanos modernos (Homo sapiens) evoluíram com uma propensão para matar uns aos outros seis vezes maior do que a média dos mamíferos, herança de nossos [supostos] antepassados primatas que eram tão violentos quanto nós. A conclusão é de um estudo de biologia evolucionária que procurou desvendar as raízes da violência interpessoal na nossa espécie, numa tentativa de responder à antiga questão se ela é fruto de nossa natureza, conforme proposto pelo filósofo britânico Thomas Hobbes em meados do século XVII, ou do ambiente em que fomos criados, como sugeriu o também filósofo franco-genovês Jean-Jacques Rousseau aproximadamente cem anos depois. No estudo liderado por José María Gómez, da Estação Experimental de Zonas Áridas em Almería, Espanha, e publicado na edição desta quarta-feira da prestigiada revista científica Nature, os pesquisadores coletaram dados de mais de quatro milhões de mortes entre 1.024 espécies de mamíferos atuais, representando cerca de 80% das famílias dentro dessa classe de animais, assim como em mais de 600 populações humanas espalhadas pela Terra entre 50 mil anos atrás até hoje. Eles então analisaram essas informações em busca da proporção das mortes provocadas por integrantes da mesma espécie – o que entre os humanos incluiu episódios de guerra, homicídios, infanticídios, execuções e outros tipos de violência intencional.
Além disso, os cientistas também procuraram por similaridades no comportamento agressivo entre espécies com ancestrais comuns, tirando daí estimativas do quão violentos eram esses animais predecessores delas. Com isso, eles puderam então montar o que é conhecido como uma árvore filogenética da violência intraespécie entre os mamíferos, isto é, como esse comportamento evoluiu à medida que foram surgindo os vários ramos de nossa classe de animais.
Segundo os pesquisadores, enquanto de modo geral a violência contra membros da mesma espécie responde por cerca de 0,3% das mortes de mamíferos, no último [fictício] ancestral comum de todos primatas, roedores e lebres ela já era responsável por matar 1,1% de seus “irmãos”. E daí para frente a situação praticamente só fez piorar. Ainda de acordo com as análises, quando se chega ao último ancestral comum de primatas e escadentes, ordem de animais carnívoros parecidos com esquilos, essa taxa já era de 2,3%.
Já quando da divisão [arbitrária] da ordem dos primatas entre inferiores (macacos, micos e saguis) e superiores (gorilas, chimpanzés e humanos), a taxa de mortes provocadas por integrantes da mesma espécie caiu para 1,8%, de forma que quando o último [suposto] ancestral comum dos humanos modernos com os demais hominídeos apareceu, entre 200 mil e 160 mil anos atrás, ela estava em aproximadamente 2%, em linha com a que vemos nos outros primatas atuais. Isso não quer dizer, no entanto, que a esperança e a fé no lado bom da natureza humana estão perdidas, garante Gómez.
“A violência é parte de nossa história evolutiva, mas não está escrita em pedra nos nossos genes”, comentou. “Pelo menos em algum nível, a forma como os humanos se organizam em sociedades influencia nossos níveis de violência.
De fato, as análises populacionais do histórico de violência de nossa espécie mostram uma grande variação na taxa de mortes provocadas por outras pessoas. Dos 2% que partiram nossos ancestrais caçadores-coletores da Idade da Pedra, ela chegou a 10% e a 20% entre o início da revolução agrícola do mesolítico, há 10 mil anos, até a Idade Média no chamado “Velho Mundo” (Europa, Ásia e África). Já nas Américas, a taxa de mortes violentas variou de pouco mais de 15% no chamado período formativo, de 4 mil a 1,8 mil anos atrás, até assustadores 30% a mais de 60% após a descoberta do “Novo Mundo” pelos europeus.
Entrando na era moderna, porém, essa taxa recuou para menos de 5%, mesmo com as duas grandes guerras mundiais e as bombas atômicas. Já hoje, nas sociedades contemporâneas mais desenvolvidas, com seus sistemas policiais e judiciais, prisões e rejeição cultural da violência, a taxa de homicídios não passa de 1 a cada 10 mil mortes, ou 0,01%, 200 vezes menos o que seria de nossa “natureza”. Com isso, “Hobbes deu uma pancada forte em Rousseau, mas não bem o nocauteou”, avalia Mark Pagel, pesquisador da Universidade de Reading, no Reino Unido, em comentário que acompanha o estudo na Nature.
Nota do pastor Ericson Danese: “A que ponto chega a mentira! Até onde vamos chamar isso de ciência e manchar a verdadeira ciência? Nature divulga um estudo que reconstrói a ‘arvore evolutiva humana’. O estudo traça números de violência entre espécies extintas nunca observadas, como se os cientistas tivessem acesso a fichas policiais e documentários científicos da ‘pré-história’. Dados totalmente ‘estimados’, com base em animais de hoje. Ancestrais totalmente ‘estimados’. Por que tudo isso? Bem, não existe mais pecado. A evolução explica. A psicologia explica. A história e a luta das classes explicam. De gota em gota, o humanismo deixa o ser humano menos temeroso (no sentido de temor e não de ter medo) de Deus. Aliás, Deus agora tem que ser um Deus como amante distante. Ele só ama, à distância, não julga, não pune, não traz juízos. Castigar? Deus agora é light! Quando o pecado é explicado, deixa de ser pecado. Sem conceito de pecado, ninguém quer se arrepender de nada.”
Nota final: A pergunta é: Evoluímos para ser maus ou fomos criados para ser bons e o pecado nos fez maus? [MB]